Transição Socialista

Aproveitar a crise ou tentar resolvê-la?

Este texto é uma síntese da análise do MNN, elaborado como contribuição a um debate sobre a crise política atual, a ser realizado no Sindicato dos Trabalhadores da USP.

1. CRISE DE REGIME

A atual crise política não é uma crise deste ou daquele governo, mas de todo o regime político, da forma pela qual a burguesia exerce sua dominação de classe contra os trabalhadores hoje. É uma crise do atual regime democrático-burguês.

Por conta da crise econômica e do acirramento da luta entre burguesia e proletariado, os burgueses são pressionados e, como irmãos inimigos, começam a concorrer mais entre si e brigar mais por recursos do Estado, o que se espalha por todas as instituições burguesas (Judiciário, Legislativo, Executivo, Ministério Público, etc). Daí a Lava-Jato, o impeachment e tudo mais. Quando imaginaríamos ver grandes empresários e políticos tradicionais sendo condenados à prisão no Brasil? Isso só é possível neste cenário de crise, acirramento da luta de classes e briga entre os próprios burgueses e seus representantes.

2. O QUE SUSTENTOU O REGIME DEMOCRÁTICO?

A atual forma de dominação “democrática” da burguesia foi gerada quando o Regime Militar entrou em crise no final da década de 70. O poderoso proletariado brasileiro, sobretudo o operariado paulista, demonstrou grande força na luta em defesa de suas condições de vida nas grandes greves naquele período e abalou o governo dos militares.

A burguesia não podia mais dominar por meio de uma ditatura e precisou encontrar uma forma de conter a luta e fazer uma transição controlada para outra forma de dominação, a democrática. Recorreu a sindicalistas pelegos, Lula à frente, para acabar com as greves. Utilizou a construção do Partido dos Trabalhadores para domesticar as massas e canalizar toda a luta para a disputa eleitoral e parlamentar. O PT vendeu a toda uma geração de lutadores a ilusão de que era possível abandonar as grandes greves para disputar o novo regime democrático-burguês. Ao longo de décadas o PT e seus braços nos movimentos sindicais e sociais serviram como um verdadeiro dique de contenção da revolta e da auto-organização das massas trabalhadoras, sempre jogando as esperanças para as urnas até que finalmente chegasse ao poder com Lula em 2003.

A crise dessa forma de dominação da burguesia se confunde, portanto, com a crise do PT. A desilusão dos trabalhadores com a farsa petista começa a explodir em 2013 em forma de descontentamento e protestos populares. A burguesia começou a perdeu seu principal meio de controle da estabilidade política e começa a procurar outra saída. O impeachment de Dilma foi uma tentativa improvisada de contornar o problema, de apaziguar o descontentamento popular, mas essa tentativa falhou. A crise se aprofundou com o governo Temer e os políticos e as instituições estão mais desmoralizados.

3. AUTORITARISMO versus PODER DA MAIORIA

A burguesia ainda precisa encontrar uma nova forma para manter sua dominação. Hoje, seus representantes políticos tradicionais estão sendo forçados a se unificar para “estancar a sangria”, “protegendo Lula e todo mundo”. Precisam salvar o sistema político apodrecido e suas próprias peles para tentar renovar o regime a partir das próximas eleições (seja 2018, ou antes). E o principal candidato para tentar salvar o sistema político é Lula.

A salvação do sistema político dependerá do fortalecimento do Estado, de uma concentração maior do poder, e ataques ainda mais duros às nossas condições de vida e organização. Lula é quem tem melhores condições para se cacifar nas urnas e conduzir o regime para formas mais autoritárias com um verniz populista.

Não cabe a nós ajudar a burguesia a resolver sua crise e pedir eleições como sempre fez o PT. É verdade que nós trabalhadores ainda não podemos tomar o poder para governar e organizar a economia, a única forma de resolver de vez as crises econômica e política. Mas devemos aproveitar a crise entre os inimigos para fortalecer nossa organização e defender nossos empregos e salários, avançar na construção do nosso próprio poder, o poder da maioria organizada a partir das assembleias, piquetes e comandos de greve. Essa é a verdadeira alternativa de poder dos trabalhadores, não há atalhos nem soluções mágicas.

Assinam: Bruno (FD) e João (FFLCH), militantes do MNN