Transição Socialista

Greve dos trabalhadores da USP: primeiro balanço

1. Missão dada, missão cumprida

Deflagrar essa greve não foi uma decisão fácil, não à toa houve divergência entre nós. Mas pensamos que se demonstrou correta a posição daqueles que a defenderam. Nós, da TS, avaliamos que havia possibilidade de conquistas e que a conjuntura nacional e local era favorável à greve, o que por ora se confirmou. Entramos nessa greve conscientes das dificuldades que teríamos, agimos de acordo com as nossas forças, puxando a luta para frente até o limite das nossas capacidades reais, sem dar passos maiores que as pernas.

Desde o início apostamos na nossa capacidade de conquistar ao menos um reajuste nos vales, focando nessa reivindicação específica. Percebíamos os limites da greve unificada das estaduais paulistas contra o 1,5%. Ela não seria forte o suficiente, por mais importante que tenha sido essa resistência em unidade com as demais categorias para nossa mobilização.

Apostamos numa missão que os trabalhadores da USP confiassem ser possível de cumprir com a nossa greve, com o tamanho, o fôlego curto, e as características que ela tinha, numa missão que tivesse o respaldo massivo da nossa categoria: não amargar mais um ano de congelamento nos vales. Isso evidentemente não significou abandonar as demais reivindicações que agitamos antes e durante a greve e que são fundamentais para nós, mas em reconhecer que ainda precisaríamos acumular mais forças do que tínhamos para conquistá-las também.

Com a pressão do Trancaço, do ato de rua e da greve crescente, conseguimos fazer com que a Reitoria remarcasse a primeira negociação que havia sido adiada. Nessa primeira reunião, já conquistamos um reajuste de R$100,00 no VA e a possibilidade de negociar o pagamento dos dias parados de 2016 foi aberta, o que tornou esse o foco da luta nesta reta final. Com aquela primeira concessão do reajuste do VA parte do espaço para o crescimento da greve na categoria se fechou, como toda vez que a Reitoria faz concessões. No entanto, conseguimos nos manter organizados na greve por mais uma semana para pressionar a segunda negociação. Não conquistamos o que mais queríamos com ela, o pagamento imediato dos dias de 2016, mas a Reitoria cedeu mais R$ 40,00 no VA.

2. Greve de Vanguarda

Alguns companheiros criticam nossa decisão de entrar em greve por caracterizarem-na como vanguardista e descolada da massa da categoria, ou como “uma aventura que deu certo”. Discordamos dessa caracterização.

É verdade que a nossa greve foi uma ação da vanguarda da categoria, dos lutadores mais conscientes, e com peso maior das unidades mais organizadas, mas não é verdade que essa ação estava descolada da massa da categoria. Embora a grande maioria dos funcionários não estivesse disposta a arriscar-se na greve e a enfrentar as chefias e as diretorias, o nosso movimento tinha grande legitimidade entre nossos colegas, e espaço para crescer. Deflagrada a greve, ela cresceu e se fortaleceu.

A greve teve boa ressonância na massa da categoria, que está indignada com o nosso empobrecimento e com o desrespeito da Reitoria. Mesmo passivamente, essa massa deu cobertura para os grevistas. E agora, com a conquista dos R$140,00 no VA de todos, estamos mais respaldados pela categoria para resistirmos às tentativas de punição e à perseguição aos lutadores.

Apesar dessa caracterização de que foi uma greve de vanguarda, não podemos subestimar a grande força que a greve teve em várias unidades de ensino e em campi do interior, a importância de deflagramos a greve no HU, e a realização de paralisações em unidades em que os trabalhadores estavam muito intimidados, mas ainda assim conseguiram se organizar para engrossar o movimento. São muitos os exemplos, sem dúvida a categoria saiu dessa greve mais forte, confiante e organizada do que entrou!

3. Retorno ao trabalho e primeiras tarefas

Apesar das limitações do acordo assinado com a Reitoria, não poderíamos manter essa greve. Depois da primeira negociação da pauta específica a tendência de crescimento já começou a estagnar e mostrar os primeiros sinais de esgotamento, segurar a greve por mais tempo começaria a nos fragilizar. A melhor forma de nos proteger e manter-nos organizados, fortes e com conquistas era com o término da greve na última sexta.

Desde a derrota de 2016 a vanguarda dos trabalhadores foi se dispersando. Essa greve de 2018 cumpriu o papel de reorganizar, fortalecer e renovar o ativismo da categoria e o nosso sindicato! Precisamos nos esforçar ao máximo para manter esse grau de organização, e nossa primeira tarefa é a autodefesa contra qualquer ameaça de punição. Nossa segunda tarefa é fortalecer o nosso sindicato, a começar por aumentar a taxa de filiação da categoria, aumentar a arrecadação e diminuir os problemas financeiros da nossa entidade, a nossa principal arma nessa guerra pelas nossas condições de vida e trabalho!

Mesmo sem a greve, não podemos retroceder da luta por nossas reivindicações, especialmente contra o arrocho salarial de 1,5%, pelo pagamento dos dias parados de 2016 e por contratações de funcionários USP no HU e no CSEB. É preciso acumular as forças necessárias para derrotar esses ataques e derrubar a burocracia universitária que os impõe.

Por fim, não podemos abandonar os estudantes que estiveram ao nosso lado nessa batalha e, como sempre, foram fundamentais. Devemos apoiar sua mobilização e suas reivindicações o máximo possível e fortalecer nossa aliança contra a destruição da USP com eles, a aliança da maioria contra a minoria de parasitas da Reitoria!

4. MRT, a retranca da greve

O MRT é hoje a segunda força política na direção do nosso sindicato, com dezenas de militantes na categoria, por isso sua atuação merece uma avaliação própria. Os companheiros terem defendido contra a entrada em greve não foi o maior dos problemas pois, como dissemos, essa não foi uma decisão fácil. Também não pretendemos acusá-los de pelegos ou algo do gênero. Por mais divergências que tenhamos, reconhecemos que são companheiros de luta e que se disciplinaram pelas decisões da maioria, lutaram conosco e construíram a greve, ainda que de forma contraditória e heterogênea entre seus militantes.

Mas para legitimar suas posições de que vivemos uma conjuntura política desfavorável, de que a recente greve dos caminhoneiros foi reacionária, e de que nossa greve seria uma aventura, a cada oportunidade dirigentes do MRT atuavam para desmoralizar os grevistas, puxar o movimento para baixo e mantê-lo aquém das suas reais capacidades. Em muitas intervenções, desde a contrariedade à deflagração da greve, foram irresponsáveis e oportunistas com o movimento, mais preocupados em tentar comprovar as próprias análises. Com a greve já aprovada, sob uma aparência de combatividade defendiam o 8 ou 80: ou a greve ganhava a adesão de 90% da categoria e conquistava todas as nossas reivindicações, ou conduziríamos a categoria para uma derrota absoluta e irreversível.

Em meio a uma guerra, esse tipo de tentativa de desmoralização das tropas a partir das nossas próprias fileiras poderia ter tido um impacto muito negativo para nós e muito vantajoso para a reitoria. Felizmente, a boa oratória e a retórica dos companheiros não conseguiram abalar a disposição de luta da categoria.

Mencionamos alguns exemplos que ilustram nossa denúncia, para além das falas que fizeram: antes da greve, ainda em abril, na assembleia que deflagrou a nossa primeira paralisação, os companheiros defenderam contra a realização de um ato na frente da reitoria porque “não teríamos força para tanto”. Esse ato aconteceu, deu certo e foi importantíssimo para dar o pontapé em todo esse processo crescente de luta.

Ou quando logo no segundo dia de greve fizeram um levantamento do número de grevistas, bastante questionável pelo método. O número baixíssimo que apontaram serviu para jogarem para baixo o movimento e tentarem bloquear qualquer iniciativa de radicalização. Conseguiram em um primeiro momento convencer o comando a não marcar um mero trancaço do P1, como se essa iniciativa fosse arriscada e contraditória com a massificação da greve. Quando a reitoria adiou a primeira negociação da pauta específica, concordaram com a proposta de um trancaço em resposta, mas chegaram a propor que fosse marcado para 7h30, novamente devido à suposta fraqueza do movimento. Tradicionalmente começamos a nos concentrar às 6h, porque quanto mais cedo conseguimos começar mais efetivo é o trancaço. Com o travamento iniciado, queriam bloquear menos saídas do cruzamento do que pudemos realmente fechar. E assim por diante, outros exemplos poderiam ser citados.

Com roupagem de análise fria da realidade, sempre que possível pintaram um cenário apocalíptico para a luta, de fraqueza e vulnerabilidade, tentando diminuir e neutralizar o potencial que a greve realmente tinha, o que é inaceitável para dirigentes de um sindicato como o nosso.

5. Reagrupar, reorganizar!

Passamos por momentos difíceis desde 2016. Mas essa greve serviu para fortalecer antigos lutadores, trazer trabalhadores que estavam afastados ao movimento, e ganhar alguns novos ativistas. Mais que isso, demonstrou que existe uma grande energia entre os trabalhadores da USP para resistir contra a degradação do nosso poder de compra e das nossas relações de trabalho.

Proteger os lutadores, fortalecer o sindicato, avançar na defesa contra o arrocho, receber o desconto de 2016, ter contratação de profissionais da saúde: nossas tarefas são muitas, e exigirão de nós um grau elevado de organização. Devemos aproveitar os ecos da greve, nos reagruparmos enquanto categoria, e irmos afiando as armas para as próximas lutas. Não tem arrego!