Transição Socialista

PSOL, paródia do PT

Havia no PT um grupo supostamente mais radical, oposto à direção majoritária do partido, localizado sobretudo no Rio Grande do Sul, formado de ditos “trotskistas”. Era a Democracia Socialista (DS), um dos grupos com maior expressão no partido. Sua principal figura pública foi Tarso Genro, prefeito de Porto Alegre e depois governador do estado, ministro de Lula, etc. O “trotskismo” da DS vinha de uma corrente sabidamente revisora das posições de Trotsky, chamada de “pablista”. A DS, no final das contas, em geral legitimava as posições da direção majoritária do PT, controlada por Lula e aliados advindos do stalinismo, como Zé Dirceu.

A Democracia Socialista mantinha uma posição dúbia com a ala ainda mais à esquerda no PT, composta pela Convergência Socialista (CS), pela Causa Operária (CO) e outros agrupamentos menores, que formavam um bloco de esquerda para tentar derrotar o grupo majoritário. Fora do PT, indeciso quanto a esse partido, em compasso de espera, em paralisia e confusão, estava o PCB. Parte de seus quadros migrou para o PT, sem nunca se alocar bem, parte ficou fora e reorganizou o partido.

Enquanto isso, os parlamentares do PT seguiam suas políticas de acordo com suas vontades, sem se importar com os grupos mais à esquerda, exercendo o controle real do aparato junto com o grupo majoritário de Lula.

A ala mais radical — Convergência, Causa Operária, etc. — julgava que dentro do PT cresceria, pois haveria ali uma vanguarda a ser disputada e a ser educada para suas posições revolucionárias. A cada adaptação da direção majoritária (e eram várias, tendo começado logo no primeiro dia do partido), a ala radical denunciava, fazia exigências, etc. Assim ela consumia, por anos a fio, a maior parte das suas energias na disputa interna do PT, e deixava de se voltar às massas da classe trabalhadora com um programa revolucionário.

As massas da classe trabalhadora conheciam do PT apenas o que suas principais figuras falavam na televisão e jornal. Eram os parlamentares oportunistas, sobretudo Lula e aliados. Apesar de todas as denúncias, a ala mais radical, em última instância, com “ressalvas”, ainda apoiava esses parlamentares oportunistas.

Hoje há no PSOL um grupo supostamente mais radical, oposto à direção majoritária do partido, localizado sobretudo no Rio Grande do Sul, formado por ditos “trotskistas”. É o Movimento de Esquerda Socialista (MES), um dos grupos com maior expressão no partido. Sua principal figura é Luciana Genro, filha de Tarso Genro, atual candidata a prefeita de Porto Alegre. O “trotskismo” do MES vem de uma corrente sabidamente revisora das posições de Trotsky, chamada de “morenismo” (mas numa versão piorada). O MES, no final das contas, em geral legitima as posições da direção majoritária do PSOL, controlada por Ivan Valente e aliados advindos do stalinismo (veja-se o caso das alianças eleitorais espúrias do PSOL com partidos burgueses, apoiada pelo MES).

O MES mantém uma posição dúbia com a ala ainda mais à esquerda no PSOL, composta pela Liberdade, Socialismo e Revolução (LSR), Insurgência, e outros agrupamentos menores, que formam um bloco de esquerda para tentar derrubar o grupo majoritário. Este hoje se chama Bloco de Esquerda Socialista, se propõe a atuar além do PSOL, mas na prática deve aproximar para esse partido novas organizações políticas, como a Nova Organização Socialista (NOS, ruptura do PSTU), o Movimento por uma Alternativa Independente e Socialista (MAIS, ruptura do PSTU) e o Movimento Revolucionário dos Trabalhadores (MRT). Do lado de fora do PSOL, indeciso quanto a esse partido, compondo o “Bloco de Esquerda Socialista”, está o PCB.

Enquanto isso, os parlamentares do PSOL seguem suas políticas de acordo com suas vontades, sem se importar com os grupos mais à esquerda, exercendo o controle real do aparato junto com o grupo majoritário de Ivan Valente…

E la nave va… É a crônica de uma morte anunciada.

Será que a “esquerda” não percebe que a tragédia virará farsa grotesca? O PT ao menos tinha, inicialmente, certa base operária. O PSOL não a tem. O PT tinha, por isso, uma identidade um pouco maior com lutas da classe trabalhadora. Havia, é claro, reivindicações democráticas da pequena-burguesia nesse partido, mas elas não eram majoritárias. O PSOL é quase que somente marcado por reivindicações democráticas da pequena-burguesia, e seu “socialismo” apresentado à população é algo tão vago quanto perceptível.

Hoje Luciana Genro apresenta um programa burguês para gerir Porto Alegre (veja comentário sobre seu programa aqui). Por sua vez, Luiza Erundina apresenta programa burguês para gerir São Paulo (e os “radicais” paulistanos, que tanto falam em “golpe”, se vinculam e mesclam com a candidata que ontem mesmo tinha Michel Temer como vice).

No final das contas, os grupos que buscaram um “atalho” de construção no PT não conseguiram nada. Todos saíram (expulsos) com praticamente o mesmo número de militantes do que quando entraram, senão menores e muito mais fracos. A “disputa da vanguarda”, na prática, fez a esquerda voltar as costas às massas e só perder tempo. E essa “vanguarda” petista, em sua grande maioria, virou uma geração perdida de céticos ou pequeno-burgueses. A “esquerda mais radical” nunca conseguiu ser hegemônica no PT, porque contra ela estavam os membros “poderosos”, os vinculados ao poder burguês — os vereadores, deputados, prefeitos, etc. – e porque ela própria sempre atuou dentro de certo marco programático social-democrata. Hoje esses grupos, já fragilizados, resolvem aplicar a (paródia) da “tática” dentro do PSOL.

A tarefa central dos revolucionários hoje no Brasil é impedir que a história se repita como farsa; quebrar esse processo acomodado e confortável em que o bom filho sempre à casa torna. É preciso romper o ciclo vicioso e abrir possibilidades novas, mais arriscadas, desconhecidas, mas que certamente levam a um caminho mais promissor. A “reorganização” da esquerda precisa levar à formação de uma organização de revolucionários, bolcheviques, vinculados à classe operária, inseridos nas principais forças produtivas brasileiras, armada de um programa dialético-transitório, ou não levará a lugar algum.