Transição Socialista

Quem tem medo do impeachment?

12.04.2016

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Companheiros, consideramos um erro grave a posição votada sobre a crise politica nacional na última assembleia. Se posicionar contra o impeachment é se alinhar com as forças governistas que buscam salvar a pele de Dilma e do PT. A posição defendida pelos companheiros do MRT “Contra o impeachment e contra os ataques do governo do PT” em nada se difere daquela da frente governista encabeçada pela CUT, Lula, a UNE, o MTST etc.

Qualquer um que acompanha a história do nosso sindicato pode se assustar com esse giro e nova localização política. A última resolução que tínhamos aprovado em assembleia a esse respeito até então era “Chega de Dilma, PT, PSDB e PMDB”, rechaçando todos os governos e partidos dos patrões. Por qual motivo haveríamos de abandonar esse rechaço e a partir de agora sustentar o mandato da presidente? O que nós perdemos com a saída de Dilma?

O temor da burocracia sindical, da militãncia petista e todos os seus aparatos nós conhecemos: o acesso aos gigantescos recursos do Estado nacional pra esses parasitas fica comprometido com o PT fora do governo. A queda do governo reduz o acesso do aparato petista aos recursos do Estado e quebra parte da força material que sustenta esse dique de contenção da revolta dos trabalhadores. O PT desde que nasceu serviu pra conter a revolta da classe. Desde os anos 1980, a estabilidade democrática e a passividade dos trabalhadores diante de toda lama da política nacional e o aumento do grau de sua exploração só foram possíveis graças à construção do Partido dos Trabalhadores. Mesmo na oposição, o PT foi o ponto de equilíbrio para a dominação de todos os partidos burgueses enquanto desviava a luta dos trabalhadores pra disputa eleitoral e a defesa dos interesses privados e mesquinhos de seus políticos.

O PT e seu governo estão ruindo porque há finalmente um rompimento de massas, sobretudo da classe operária, com sua traidora direção histórica e principal bloqueio desde o desmoronamento da ditadura militar. Nosso papel neste momento é impulsionar, e não conter o ódio de classe contra o PT. Desmontar todo seu aparato de contenção das massas e desarmar a burguesia golpeando seu principal bloqueio para organização do operariado. O rompimento das massas e da classe operária com o PT é o que obriga parte da burguesia a recorrer ao impeachment em uma tentativa desesperada de, sem o PT, acalmar a revolta da população em meio à crise econômica. Por isso consideramos que a crise da dominação da burguesia sobre a classe trabalhadora é muito mais profunda do que qualquer articulação em torno de Temer, o provável presidente do 1% de intenções de voto, ou em torno de qualquer político burguês que não Lula.

Derrubar o governo e reorganizar a classe

A queda de Dilma, por impeachment ou não, cria melhores condições pra necessidade histórica de construção de uma nova direção revolucionária pros trabalhadores no Brasil. Não podemos justamente neste momento de acerto de contas estender sequer um dedo de apoio a esse governo, ao contrário, devemos ajudar a empurrá-lo. O impeachment é uma manobra da burguesia em que a classe pode se apoiar pra atacar o governo e derrubá-lo, mas isso não quer dizer que com ele a classe fortaleça suas ilusões no congresso corrupto e desmoralizado. Nosso objetivo com o “Fora Dilma” é aprofundar a crise de dominação da burguesia no Brasil, fragilizá-la. Ao mesmo tempo em que defendemos a queda do governo, desde já devemos atacar a saída Temer ou qualquer outra que se dê pelo PSDB, PMDB ou outros.

Não vai ter golpe

Toda justificativa da esquerda pra se furtar de defender pros trabalhadores que este governo burguês e traidor deve cair se reduz ao temor das incertezas que decorrem do próprio acirramento da luta entre as classes, que é verdade, deve endurecer o regime político.

Todos que defendem que há uma “onda conservadora” ou “giro à direita” esquecem que a luta dos trabalhadores e da juventude também aumentou nos últimos anos. O que há é polarização social e aumento da luta de classes. Para responder a isso a burguesia precisa endurecer o regime político, mas isso não significa de forma alguma que estaria em curso um golpe de Estado pra depor o atual governo à força e suspender liberdades democráticas. Há setores expressivos da burguesia por trás tanto do PT como do PSDB. Junto com o PT encontramos Renan Calheiros, Collor e Katia Abreu. Uma mudança de governo agora não seria uma ruptura institucional e nem significará uma passagem para um regime político mais autoritário. É verdade que a oposição “de direita” pode se fortalecer caso o governo caia. Mas também é verdade que o governo federal, também de direita, pode se fortalecer caso não caia.

O maior perigo para nós é a manutenção do governo do PT e a possibilidade de reeleição de Lula sustentado por uma massa de oportunistas, burocratas e bate-paus, o histórico traidor e conciliador que pode levar o PT a 20 anos no poder. Diante da revolta da classe eles não hesitariam em aumentar a repressão e perseguir a oposição como fazem desde os anos 80 nos sindicatos. Se perdermos essa chance de derrubá-lo, o PT pode fortalecer seu papel de bloqueio histórico e avançar para formas populistas e mais autoritárias de poder. Essa é a principal possibilidade de cairmos novamente num regime político personalista e repressivo como foi o de Getúlio Vargas, um regime de tipo bonapartista que precisa de um grande líder carismático como Lula.

Para a burguesia, Lula e seu partido são os mais capacitados para realizar uma possível transição de regime e quebrar instituições democrático-burguesas, pois possuem maior base de controle do sistema político e, sobretudo, uma maior máquina de controle social da classe trabalhadora. A despeito do terrorismo governista sobre ameaças de fascismo e golpe militar, a maior ameaça de mudança de regime está, portanto, contida no fortalecimento do lulismo.

Uma política para o futuro!

A falência do PT está vinculada a uma crise profunda do atual regime e à crise estrutural da economia capitalista. Grandes combates se aproximam e mais do que nunca nosso sindicato deve se manter como referência de organização independente dos trabalhadores. Um sindicato que durante décadas resistiu à burocratização e atrelamento direto ao Estado, que tem total independência financeira, pois não recebe o imposto sindical e depende exclusivamente da contribuição voluntária dos trabalhadores, que nunca se privou de combater governo burguês de nenhum partido, que atravessou as décadas de marasmo e adaptação do movimento operário mantendo seus métodos de greve, piquetes, comandos e organização pela base, atos e ocupações, esse sindicato ainda pode ser uma referência pra luta dos trabalhadores que tendem cada vez mais a ultrapassar suas direções traidoras na luta por suas condições de vida e contra os governos dos patrões! O significativo aumento no número de greves desde junho de 2013 mostra que não estaremos sozinhos nas próximas batalhas. Não podemos continuar por muito tempo de costas viradas para o futuro que se abre pra nossa classe e com os braços dados com o passado petista na luta contra o impeachment de Dilma.

REERGUER A FORÇA DA CLASSE TRABALHADORA!

FORA DILMA! TEMER É O PRÓXIMO A CAIR!