Transição Socialista

Bolívia a bordo de guerra civil por culpa de Evo

Por Pablo Paniagua, diretamente de Santa Cruz de la Sierra

Nosso caudilho Evo Morales não renunciou para “restabelecer a paz no país”, como prometera, mas para tentar iniciar uma guerra civil. Desde que renunciou, hordas armadas do MAS [partido de Morales] saíram para saquear as cidades de Cochabamba e La Paz, para atacar seus habitantes.

No mundo da “esquerda” circula a charlatanice de que se deu um “golpe” na Bolívia e de que Morales é uma vítima, mas a única opção que restou aos populares de La Paz – incrivelmente – foi sair às ruas ao lado da polícia para fazer barricadas e contra-atacar os bandos do MAS. Ninguém quer mais mortos, mas os bandos proto-fascistas de Evo têm armas de fogo, dinamites, facões, não apenas pedras e paus.

Não há golpe na Bolívia. O governante burguês foi derrubado e o problema do poder se abriu. Haverá revolução? Sem organização revolucionária da maioria da população, evidentemente, não pode haver qualquer revolução. Mas que fazer então? Pedir para o povo emputecido ficar em casa esperando a construção de um partido revolucionário? Esperando as condições perfeitas? Obviamente, essa ideia só serviria para paralisar a população e favorecer o autoritário Evo, que realizava – ele sim! – um golpe e tornava seu governo ainda mais autoritário.

Uma mulher humilde e de pollera [saia tradicional], que trabalha como doméstica na cidade de La Paz, chorava pela manhã… Militantes do MAS invadiram a casa de seu irmão, que vive na comunidade Río Abajo, a 30 minutos da cidade. Ameaçaram-no de queimar sua casa, caso não integrasse a horda que agora chega em La Paz gritando “Agora sim, Guerra Civil”. É assim nas comunidades!

Por que La Paz e El Alto são o foco das hordas masistas? La Paz é a capital política (não econômica); há nela centenas de milhares de dependentes do Estado. Estes, os únicos que realmente ascenderam nos 14 anos de Morales, agora sabem que perderão o emprego. Em El Alto há o maior número de camponeses empobrecidos que ganharam pequenas prendas do Estado. Foram comprados politicamente. Seu sentimento não coaduna com o da maioria dos trabalhadores nem mesmo dessas cidades.

11 de novembro, são 20h17, meu melhor amigo de La Paz está em Pânico. Apagou as luzes de seu apartamento e me enviou um vídeo por whatsapp. Alertou que a horda de Evo passava pela sua rua… Inclusive ele, uma pessoa instruída e politizada, se tranquilizou ao ser informado de que o exército policiaria as ruas de La Paz. 

O povo trabalhador tirou Evo do poder, mas há uma vazio político e os bandos vândalos de Evo espalham caos e terror pela rua. O caminho, é claro, seria pela criação de milícias de autodefesa do povo trabalhador… mas como fazer isso se não há organização popular e radical dos trabalhadores, se não há um partido de esquerda de verdade (e o MAS no governo impediu que houvesse)? Que popular, sem organização, terá coragem de enfrentar bandos armados com dinamite?

Sigo de perto o noticiário noturno. Um contingente policial, apoiado por moradores dos bairros, está saindo para Yapacaní, para restituir um pouco de paz e ordem numa localidade marcada pelo narcotráfico, que amanheceu tomada pelos militantes do MAS. Um avião da Força Aérea mexicana sobrevoa a Bolívia para recolher nosso caudilho, que está escondido. Concederam-lhe asilo.

Ninguém mais que um boliviano que vive neste país sabe que Evo Morales não é uma vítima, que utilizou sua mestiçagem indígena para instaurar um governo autoritário; que instrumentalizou movimentos sociais, camponeses, operários; enfrentou o povo com o povo e fraudou eleições que não o deixariam chegar pelas regras da democracia burguesa ao poder. Agora nosso “messias indígena” foge…